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QUANDO EU ERA PEQUENINO..


QUANDO EU ERA PEQUENINO..

 

 Eu nasci no Cachambi, Rio de Janeiro. Acho que o meu primeiro presente dado pelo meu pai deve ter sido uma bola. Meu pai era vidrado por futebol. Jogava na ponta esquerda do time do Cachambi e chegou até a ser Presidente do clube. Não jogava muito bem. Só queria brigar. Todo jogo, contam, que só entrava para arrumar confusão. O importante para ele era realmente o futebol jogado.


Admirava os grandes jogadores de todos os clubes brasileiros. Tricolor, mas admirador do jogador bom. Me levava ao Maracanã e quando chegava lá e o jogo não era o do Fluminense, eu perguntava a ele cadê o Fluminense e me respondia: “Viemos ver Garrincha, Nilton Santos, Didi ou Dida, Carlinhos etc. quer mais do que isso?” Assim eu fui me transformando em admirador de futebol e também, praticante!


Comecei num terreno baldio lá no Cachambi, depois passei para a rua de paralelepípedo, depois para o asfalto até chegar às quadras do Futebol da Bola Pesada. Todo tempo disponível eu estava com uma bola na mão. Estudava e no recreio jogava bola. Voltava para a sala de aula e quando acabava a aula, eu ia para o campo do Colégio de São Bento e só saia bem mais tarde.


Sábado eu era o primeiro a aparecer de manhã na rua já com uma bola debaixo do braço. Podia ser asfalto ou paralelepípedo. Não tinha tempo bom ou chuva intensa. Eu estaria na rua às 8h da manhã, com uma bola debaixo do braço esperando quem se atrevesse a encarar o tempo ruim ou bom, e vir jogar comigo. Se ninguém aparecesse eu ficava controlando e chutando na parede sozinho.


Não desistia de brincar com uma bola. A cada dia a bola era mais a minha vida. É claro que estudando no Colégio de São Bento eu não poderia ser mal aluno. Também não me preocupava em ser o melhor. Sempre passava de ano com a média menor que era 5. Consegui média 5? Passei? Para mim era o suficiente mesmo eu querendo ser um Engenheiro Eletrônico já naquela época.


A BOLA me fascinava. O JOGO BONITO me arrepiava. O FUTEBOL ARTE era a minha vida.

Fui em frente sempre com a bola nos meus olhos. Assistia jogos, admirava jogadores, tentava imitar alguns e outros como o Liminha, do Flamengo, o Carlos Roberto do Botafogo, Ardiles da Argentina e Gerson também do Botafogo foram meus espelhos na minha carreira. Procurava me identificar no campo fazendo o que eu os via fazer. É claro que tinha muitos outros que além de espelhos se tornaram meus ídolos.


Foi um caminho árduo. Chegava em casa sem a cabeça do dedão do pé com o sangue escorrendo. Entrava no banho e começava a gritar porque começava a arder.

Saia do banho e minha mãe vinha prestar socorro médico. Trazia algodão, gaze, esparadrapo e o salvador das infecções o “Desequilibrador de emoções do IODO”!


Aquilo era pior do que chutar o paralelepípedo. Era pior que cair e se ralar no asfalto. Era pior do que perder um gol feito. Ardia e muito! Desequilibrava qualquer criança só em pensar no tal do IODO. Assim fui aprendendo as artimanhas do futebol, fui me acostumando a jogar sempre com os mais velhos, fui me adaptando às várias posições em campo, dependendo das necessidades do time e das idades em que eu me infiltrava.


Até goleiro eu tive que ser para poder entrar em algumas peladas dos mais velhos. Não era simplesmente entrar como goleiro e a bola entrar. Frangou sai do jogo! Dessa forma tive que me esforçar a ser goleiro. É claro que era só nas peladas onde as traves eram os chinelos ou pedras. O meu tamanho já demonstrava que seria impossível eu me tornar um goleiro. Vivia ralado em cair no asfalto ou no paralelepípedo.


Graças a DEUS meu tio que também jogava futebol me levou para o Magnatas Futebol de Salão mesmo contra a vontade do meu pai que queria que eu fosse direto para o "futebol do campo imenso com a bola maior e mais pesada que do Salão". O meu primeiro treino no Magnatas foi escondido do meu pai. Queríamos continuar escondendo dele, mas não foi possível. Ele descobriu, brigou com o meu tio, mas depois aceitou e eu virei um jogador de futebol da "bola pesada".


O Futsal, como é chamado hoje, foi muito importante para a minha carreira de Jogador de Futebol do campo imenso. O importante foi todo o aprendizado que recebi durante essa época. Quem era o Treinador? A rua, o paralelepípedo, o meio-fio da calçada, o muro das casas, as árvores, os carros que atrapalhavam e tínhamos que parar o jogo para eles passarem, os pedestres, principalmente as senhoras e crianças, que também nos obrigava a mais uma vez, parar o jogo!


A rua me ensinou a jogar e a observar em outros movimentos. É a visão periférica. A bola está em jogo, mas temos de estar atento ao carro chegando, ao pedestre que se aproxima, as deformidades do calçamento do paralelepípedo, as do asfalto e das árvores no meio do campo de jogo. O meio-fio era aproveitado para fazer as tabelas. Toca no meio-fio e recebe na frente. Os muros das casas também eram alvo de tabelas. Chuta no muro e recebe na frente.


Interessante que essas tabelas com o meio-fio ou como o muro se dessem erradas o culpado era o jogador. Os muros e meios-fios eram fixos, não erravam o passe. Tudo dependia somente de quem fez o passe. Mais uma vez aprendi que o passe certo era importante para se jogar futebol. E as árvores? Igualmente importante. Eram como se fossem jogadores adversários em certos momentos e em outros eram companheiros.

Eram adversárias quando atrapalhavam a sua corrida tendo que desviar delas, quando atrapalhavam para você dar um passe porque estavam na mesma direção do seu companheiro.


Eram companheiras quando atrapalhavam seus adversários. Muitas vezes, eu e outros meninos, nos escondíamos atrás delas e quando o adversário vinha com a bola, nós saíamos de trás da arvora e surpreendia o menino tirando a bola dele. Tudo isso eu levei para dentro da quadra de Futsal e juntei com as propriedades do próprio Futsal. Aprendi que todos precisavam marcar, todos tinham que ter atenção nas coberturas, que todos tinham que ser dinâmicos. Ninguém podia parar dentro do campo senão o jogo estaria perdido.


 Quando fui para o Futebol do Campo Imenso, percebi que eu saia na frente de quem não tinha jogado Futsal. As instruções do Treinador eram bem assimiladas por mim. Eu conseguia ir para o campo e cobrar dos jogadores as instruções que o treinador tinha passado na preleção antes do jogo. Passei a ser um “Auxiliador Técnico” dentro do campo.

 

Aprendi Muito com o Pinheiro, na base do Fluminense, depois com o Alfredo Abraão, o Major Murilo de Carvalho no Bonsucesso, entre outros! Esse aprendizado foi me transformando num jogador aplicado. Tinha uma técnica, uma dinâmica e uma atenção oriundas da rua e do Futsal que me ajudaram muito a construir a minha carreira de jogador de futebol profissional.


Blog do Zé!

José Mário Barros



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