Ser jogador de futebol pode ser a melhor coisa do mundo. Pode ser a melhor profissão do mundo. Entretanto, se nos aprofundarmos mais nessa badalada profissão veremos contrastes alarmantes e surpreendentes. A iniciação no futebol é coisa gratificante. Começamos com a ideia de divertimento e ficamos alegres quando defendemos um gol ou quando fazemos um..
De repente vem alguém e sopra no seu ouvido que você tem futuro dentro desse esporte. A cabeça começa a girar. Você tem apenas 12 aninhos. Será que posso ser mesmo um astro. Será que posso ser mesmo um Arrascaeta, um Cristiano Ronaldo, um Messi ou um Neymar? Quem sabe um Zico?
Quem falou isso? Um anjo? Um capeta? Ou foi simplesmente um agente querendo adivinhar e cavar um dinheiro fácil? É necessário pesquisar direitinho quem soprou isso ao vento. Falar sempre é mais fácil do que fazer acontecer. Aí começa a cabeça do menino a rodar.
Pior...
Chegou aos ouvidos do pai que já espalhou para os familiares que já começaram estudar as mudanças nas vidas deles. Já pensam em mudar de casa e comprar um carro. A pobreza acabou! Já até colocaram ele numa escolinha de um clube. É claro que foi com o apoio do “Anjo”, ou do “Capeta” ou ainda do Agente. Ruim é que o menino tem apenas 14 anos. A família já pressiona e acompanha o menino aos treinos.
O menino progride o suficiente no entender da família dele. Entretanto para o treinador as coisas não estão evoluindo. O menino continua tentando. O estudo já está em segundo plano. A correria para dar conta do recado está grande. A bola embaralha nas pernas sob pressão de todos. Dos adversários, de si mesmo e da grande família.
Vai que vai! Vamos que vamos!
Mais um ano. Agora tem 15 anos e mais um pouco chega a 16 anos. O acompanhamento de alguns da família já diminui. O agente ainda continua na esperança de arranjar algum. Aos trancos e barrancos ele chegou aos 18 anos, mais na reserva que jogando. Agora já se tornou um homem...
A decisão da vida dele não está e nunca esteve nas mãos dele. Uma hora estava com a família, outra com o agente, outra com o treinador, outra com a torcida que num jogo vaia o menino... e finalmente chegou o dia da decisão. Fica no clube, dá prosseguimento na carreira futebolística e arca com todas as despesas da família inteira ou a vida trava. A vida dele vai para julgamento. Dirigentes e comissão técnica precisam decidir quem fica e quem sai. O nome dele é escolhido, não como o novo craque, mas para deixar o clube... E agora? Estudou? Não!
Vai à procura de um clube que exige menos. Pula para outro. Pula para mais um. Agora já está com 25 anos, já tem uma esposa e um filho. É, parece que não vai dar mesmo.. Profissão difícil! Impede o estudo, exige em demasia do corpo, exige paciência, resiliência, exige tudo que você tem, toda sua energia e foco, e na maioria das vezes não entrega nada de “concreto” de volta. Quantos tiveram essas experiências e quantos ainda vão ter?
QUANTOS MENINOS COMO ESSE FICAM PELO CAMINHO?
Quantas famílias vão tentar mudar as suas vidas na esperança de um parente ser superstar do futebol e se decepcionam profundamente. O Futebol é uma profissão que enche o olho de muitos, mas está restrito a poucos se levarmos em consideração o número de tentativas no mundo inteiro. Portanto, familiares e parentes deixem a Vida dos Meninos acontecer. Não forcem e não atrapalhem o Futuro dos meninos. Já ia me esquecendo...
“Você viu o agente por aí?”
Zé Mário Barros
BLOG DO ZÉ
Excelente texto. É a realidade do futebol